Debates
05 de maio de 2025

‘O Brasil na visão das lideranças públicas’, com Ronaldo Caiado

Neste evento — o quarto de 2025 do Ciclo de Debates ‘O Brasil na visão das lideranças públicas’ — Caiado compartilhou sua experiência e visão sobre os desafios do seu estado, Goiás, e do país.

“Fui candidato à Presidência da República em 1989, quando não tinha nem um fio de cabelo branco. Foram as primeiras eleições diretas para presidente pós-regime militar e havia 21 candidatos. Aos 39 anos, debati com políticos da estatura de Brizola, Maluf, Covas, Aureliano, Lula e Roberto Freire. Aos 75 anos, acumulei experiência e me coloco novamente como pré-candidato pelo União Brasil com um ano e meio de antecedência das eleições de 4 de outubro de 2026. Quero andar o Brasil e construir um programa de governo ouvindo as pessoas”, disse Ronaldo Caiado, governador de Goiás, em palestra na Fundação FHC que faz parte do ciclo de debates “O Brasil na visão das lideranças públicas”, iniciado em fevereiro de 2024.

“Sou um homem de convicções firmes. Sempre defendi a democracia, o direito de propriedade e a meritocracia. Sou médico, mas me tornei conhecido politicamente no final dos anos 1980 como presidente da União Democrática Ruralista (UDR). Defendi o agronegócio quando ele ainda engatinhava no Brasil. Somos hoje um dos maiores produtores de grãos e proteína animal do mundo. Graças à Embrapa, a tecnologia chegou no campo, à frente de outros setores da economia, e temos hoje um setor agropecuário muito produtivo, que garante a segurança alimentar do país e do planeta”, disse.

Ronaldo Caiado em um debate na Fundação FHC – Foto: Vinicius Doti

Em 1989, Caiado — assim como todos os políticos tarimbados que ele citou — perdeu para o novato Fernando Collor de Mello (que aos 40 anos deixou o governo de Alagoas para disputar o Palácio do Planalto), mas desde então exerceu cinco mandatos como deputado federal, em 2015 foi eleito senador e em 2018, governador de Goiás, reeleito em 2022. “Perdi duas eleições, a de 1989 e a de 1994, quando fui candidato ao governo de Goiás pela primeira vez. Mas depois que foram introduzidas as urnas eletrônicas no Brasil (em 1996), ganhei todas”, brincou.

“Combate à violência, valorização da educação e contas públicas equilibradas. Quero construir minha candidatura presidencial com base nestes três pilares, que são também os fundamentos do meu bem-sucedido governo em Goiás”, concluiu Caiado, em sua fala de abertura. Em pesquisa Genial/Quaest divulgada em fevereiro deste ano, Ronaldo Caiado teve a melhor avaliação entre os oito governadores avaliados, com 86% de aprovação em Goiás.

‘Sempre fui de centro-direita, nunca oscilei’

“Estamos há 18 meses das eleições presidenciais e é impossível prever o que vai acontecer. Mas temos hoje dois campos. À esquerda, Lula será candidato à reeleição ou indicará um sucessor. À direita, com Bolsonaro inelegível e respondendo a processo no STF, temos diversos possíveis candidatos que, para chegar lá, precisarão do apoio do ex-presidente. E o preço desse apoio é a anistia ou o indulto de Bolsonaro. Até onde o senhor iria para conseguir esse apoio? Qual a sua risca de giz?”, perguntou a cientista política Marta Arretche, professora da Universidade de São Paulo, convidada a comentar a fala de Caiado e a fazer perguntas.

“Sempre fui de centro-direita, nunca oscilei. E sempre atuei dentro do jogo democrático. Em mais de três décadas de carreira política, não tem uma ação minha que seja contra a democracia”, respondeu Caiado, que criticou a polarização política vigente no país.

“Não dá para discutir soluções para os reais problemas do país, como segurança pública, economia e emprego, entre pólos extremos. Existe uma fadiga da população dessa política maniqueísta, caracterizada pelo enfrentamento constante. Em uma democracia, ninguém é dono da verdade e o que a urna determina tem que ser respeitado”, afirmou.

Em 6 de abril deste ano, Caiado participou de uma manifestação em favor da anistia aos condenados em atos golpistas ocorrida na Avenida Paulista, em São Paulo, ao lado de Jair Bolsonaro e outros seis governadores do campo da direita: Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Jr. (PR), Jorginho Mello (SC), Wilson Lima (AM) e Mauro Mendes (MG). Em 14 de maio, ele prometeu conceder indulto a Bolsonaro e outros envolvidos em atos contra a democracia, se eleito presidente da República.

Segundo Caiado, a centro-direita é favorita nas eleições de 2026: “Há vários possíveis candidatos neste campo, como Tarcísio, Ratinho, Zema, Eduardo Leite e eu. Quem for para o segundo turno, vencerá o candidato do campo da esquerda.”

Para Caiado, o presidente Lula “não demonstra o mesmo interesse (pelo exercício do poder) como em seus dois primeiros mandatos (2003-2011). O terceiro mandato de Lula não está dando certo”.

Caiado também falou sobre o enfraquecimento do Poder Executivo frente ao Legislativo, devido ao aumento exponencial das emendas parlamentares impositivas:

“Temos hoje um presidencialismo que foi destruído, um Congresso Nacional que define grande parte do gasto discricionário do governo federal, um Supremo Tribunal Federal que muitas vezes se propõe a alterar legislações. Por que? Porque existem vários vazios. É como fazer um diagnóstico: qual é a causa da dor de cabeça? É a falta de um presidente da República. Vivemos hoje uma desordem institucional e, se eleito presidente, pretendo chamar todas as partes envolvidas para, juntos, encontrarmos uma solução. É o que tenho feito em Goiás, quando surge um tema que envolve os demais poderes.”


Leia reportagens publicadas pela imprensa após a palestra:

Folha de S. Paulo: Caiado critica emendas e diz que presidencialismo foi destruído no Brasil

Valor Econômico: Com críticas a Lula e às emendas, Caiado diz que presidencialismo foi destruído no Brasil

Veja: ‘Quem da centro-direita for para o segundo turno em 2026 vai ganhar’

JP: Ronaldo Caiado diz que Brasil vive ‘falta de comando’ e que presidencialismo foi destruído


Veja como foram outras palestras do ciclo ‘O Brasil na visão das lideranças públicas’:

João Campos: ‘Prefiro entregar resultados à população do que entrar em bola dividida. O que está faltando ao Brasil é capacidade de juntar’

Gilberto Kassab: ‘Polarização ainda é um desafio, mas democracia se consolida e eleitor está mais maduro’

Edinho Silva: ‘Governo Lula e PT devem superar polarização e abrir espaço para a uma nova agenda para o país’


Otávio Dias é editor de conteúdo da Fundação FHC. Jornalista especializado em política e assuntos internacionais, foi correspondente da Folha em Londres e editor do site estadao.com.br.

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