Journal of Democracy em Português – Edição de novembro de 2022
Destaques desta edição: a resiliência do bolsonarismo e a americanização da política brasileira e a manipulação da opinião pública online para reforçar causas e projetos autoritários.
Baixar gratuitamente!A resiliência do bolsonarismo e a americanização da política brasileira. A manipulação da opinião pública online para reforçar causas e projetos autoritários (e por que não se deve combatê-la com a manipulação em sentido oposto). A disseminação de teorias da conspiração mesmo em regimes democráticos.
Estes três temas formam o núcleo deste número do Journal of Democracy em Português, que traz também artigos sobre a democracia na África, a partir das experiências de Moçambique e Angola, os efeitos da guerra nos sistemas políticos da Ucrânia e da Rússia e a “lavagem de gênero” (gender washing) como estratégia de regimes autocráticos.
Assista à apresentação desta edição por Sergio Fausto, diretor da Fundação FHC e coeditor do Journal of Democracy em Português.
Artigos desta edição:
O movimento bolsonarista e a americanização da política brasileira: causas e consequências da extrema direita no poder
Guilherme Casarões
No primeiro texto, o cientista político Guilherme Casarões analisa a ascensão da extrema direita contemporânea no Brasil, situando-a como parte de um movimento transnacional que tem nos Estados Unidos seu principal centro de articulação. Segundo o coordenador do Observatório da Extrema Direita, apontar as semelhanças entre o movimento político capitaneado por Bolsonaro e aqueles observados ao redor do mundo, notadamente nos EUA e na Hungria, é um bom ponto de partida, mas insuficiente para fornecer uma explicação satisfatória para a força e a persistência do bolsonarismo. “É preciso compreender a tripla estratégia na qual ele se ancora, que envolve etapas de emulação, articulação e internalização”, escreve.
DOWNLOAD GRATUITOAngola e Moçambique: avanços e recuos da democracia
Mathias Alencastro
No segundo artigo, o cientista político Mathias Alencastro analisa a dinâmica política em dois países lusófonos – Moçambique e Angola – que lhe parecem oferecer elementos úteis para compreender os rumos da democracia na África. “Moçambique, antes apontado como um modelo de paz e democracia, tem evoluído perigosamente em direção à centralização do regime em torno do partido incumbente e, possivelmente, de uma liderança com amplos poderes. Angola tem seguido o caminho contrário, partindo de um regime hiper centralizado nos anos subsequentes à guerra civil para, mais recentemente, avançar na direção de uma democracia multipartidária competitiva. Embora a dinâmica da democratização seja diferente nos dois países, existem elementos em comum que são parte da problemática africana”, escreve.
DOWNLOAD GRATUITOUcrânia e Rússia: guerra e regimes políticos
Timothy J. Colton
No terceiro texto, o professor de governo e de estudos sobre a Rússia da Universidade Harvard, Timothy J. Colton, busca analisar as implicações do atual conflito no Leste da Europa para os regimes políticos ucraniano e russo. “Na véspera da guerra, o regime da Ucrânia era um projeto em construção e, de modo algum, um modelo de democracia. Isso não implica que o país, vítima de uma guerra total assimétrica, não seja digno do apoio ocidental. Mas qualquer validação do regime deve ter em conta o modo como o país realmente funciona. Já a Rússia, sob o regime de Vladimir Putin, representa um projeto de desconstrução da democracia. Permanece em aberto se um desastre na Ucrânia levaria a Rússia à tirania, a um regime mais moderno e representativo, ou ao caos”, escreve.
DOWNLOAD GRATUITOPropaganda digital: o poder dos influenciadores
Samuel C. Woolley
O quarto texto, escrito por Samuel C. Woolley, traz reflexões sobre um tema fundamental: por que a desinformação e a propaganda surgiram com força renovada na última década, por meio de sofisticadas técnicas de manipulação online? Segundo o autor – que lidera um estudo sobre os recentes esforços de manipulação política online em doze países, entre eles o Brasil –, a guinada recente em direção ao autoritarismo está indissociavelmente ligada ao surgimento da desinformação digital. O diretor do Laboratório de Pesquisa de Propaganda do Center for Media Engagement da Universidade do Texas alerta para o perigo de utilizar, para fortalecer causas e projetos democráticos, as mesmas tecnologias e táticas de manipulação usadas por movimentos e líderes autoritários. “Há muitas desvantagens potenciais de combater o fogo com fogo online, entre elas o risco de alienar ainda mais as pessoas já exaustas do frenético mundo online, do spam e da mentira”, escreve.
DOWNLOAD GRATUITOPor que a democracia alimenta teorias da conspiração
Scott Radnitz
No quinto artigo, Scott Radnitz, professor associado de estudos sobre Rússia e Eurásia na Jackson School of International Studies da Universidade de Washington, argumenta que a visão das teorias da conspiração como um monopólio de autocratas está obsoleta. No século 21, as teorias conspiratórias teriam se disseminado mesmo em regimes democráticos ou semidemocráticos. “Em um futuro próximo, há razões para esperar que as teorias da conspiração persistam e até prosperem. Na medida em que as teorias da conspiração são empregadas por serem vistas como politicamente úteis, a melhor esperança para o seu declínio é que elas eventualmente colapsem sob o próprio peso, sobretudo quando entrarem em conflito com a realidade e as experiências pessoais dos cidadãos”, escreve.
DOWNLOAD GRATUITOComo os autocratas instrumentalizam os direitos das mulheres
Elin Bjarnegård e Pär Zetterberg
O sexto artigo joga luz sobre um assunto pouco conhecido, mas de extrema relevância: a instrumentalização dos direitos das mulheres por líderes e regimes autocráticos para fazê-los parecer mais progressistas, liberais e democráticos, desviando a atenção de suas contínuas práticas autoritárias. A autora Elin Bjarnegård e o autor Pär Zetterberg, professores da Universidade de Uppsala (Suécia), descrevem este método praticado em países tão diversos como Arábia Saudita, Singapura, Bangladesh e Ruanda, como uma “lavagem de gênero” com segundas intenções. “Somente tornando pública a lavagem autocrática de gênero é que conseguiremos efetivamente chamar a atenção para o perigo que ela representa. Embora as reformas igualitárias sejam importantes em si, elas não são um substituto para eleições livres, justas e competitivas”, escrevem.
DOWNLOAD GRATUITOO Journal of Democracy em Português faz parte da Plataforma Democrática, uma iniciativa da Fundação FHC e do Centro Edelstein e está disponível em versão eletrônica, gratuita e semestral.