Journal of Democracy em Português – Edição de maio de 2018

Os cinco artigos desta edição se aprofundam em temas que estão inter-relacionados: corrupção em escala internacional, desgaste dos partidos políticos, erosão de valores democráticos e redes sociais como novo campo de batalha política. O fio nem sempre visível que conecta essas questões são mudanças tecnológicas e sociais disruptivas que colocam em xeque, para bem ou para mal, padrões econômicos, culturais e políticos predominantes na segunda metade do século 20.

Assista à apresentação desta edição por Sergio Fausto, diretor da Fundação FHC e coeditor do Journal of Democracy em Português. 

Artigos desta edição:

O lado obscuro da globalização
Oliver Bullough

Abrimos a edição de maio de 2018 com um texto do jornalista britânico Oliver Bullough, especializado no tema da corrupção, sobre os novos canais financeiros abertos pelas transações offshore (empresas de fachada, trusts, fundações e sociedades limitadas em paraísos fiscais) na segunda metade do século 20. “Foi o que alavancou e trouxe o lado obscuro da globalização: a cleptocracia. Os limites do possível (para políticos corruptos, criminosos em geral, sonegadores de impostos e até mesmo refugiados endinheirados) se expandiram radicalmente”, escreve o autor.

Lavando dinheiro e limpando reputações
Alexander Cooley, John Heathershaw e J.C. Sharman

O segundo artigo, assinado por três acadêmicos dos EUA e da Europa, mostra como cleptocratas utilizam agentes (banqueiros, corretores imobiliários, advogados, gestores de ativos e relações públicas), serviços e instituições da globalização (ONGs e até mesmo universidades) não apenas para assegurar seu patrimônio de origem ilícita, mas também para limpar suas reputações, dando origem a uma “sociedade incivil transnacional”.

Um réquiem para os partidos no Brasil?
Bruno P. W. Reis

Em texto inédito, o cientista político brasileiro constata que a identificação do eleitorado com os partidos políticos está em queda no mundo todo, o que não significa que a democracia funcione melhor sem eles. “Sem partidos, ou com partidos fracos, fica mais barato comprar decisões políticas. O desafio é criar um sistema que proteja a representação política do assédio do poder econômico (e vice-versa)”, escreve. O autor lança um alerta ao PT e ao PSDB, protagonistas na política brasileira nas últimas décadas: “Serviriam melhor ao país se parassem de se referir um ao outro como o bando de criminosos que ambos sabem que o outro não é.”

Da libertação à desordem: redes sociais e democracia
Joshua A. Tucker, Yannis Theocharis, Margaret E. Roberts e Pablo Barberá

No quarto artigo, quatro professores e pesquisadores norte-americanos e europeus analisam como as redes sociais são, ao mesmo tempo, uma tecnologia libertadora em sociedades não (ou menos) democráticas, uma ferramenta útil a governos autoritários determinados a calar seus críticos e algo que que empodera os que buscam enfrentar o status quo em democracias — incluindo grupos antissistema e extremistas. “Deveriam (ou conseguiriam) os governos democráticos fazer algo a respeito? Tentativas nesse sentido aumentam ou diminuem o apoio a princípios democráticos?”, perguntam.

A corrosão das normas e a desconsolidação democrática
Paul Howe

No artigo que encerra esta edição, o cientista político canadense parte de outro artigo já publicado pelo Journal of Democracy em Português (“A desconexão democrática”, de Roberto Stefan Foa e Yascha Mounk) para debater as possíveis razões da ascensão de um sentimento antidemocrático em alguns países, como os EUA. Com base em dados da World Values Survey, o autor sustenta que, nas últimas décadas, a sociedade norte-americana viveu uma “erosão de normas e valores básicos que conectam pessoas à sociedade e ao bem comum”. “O desafio não é apenas trazer as pessoas de volta para a política democrática, mas trazê-las de volta para o contrato social”, afirma.

O Journal of Democracy em Português faz parte da Plataforma Democrática, uma iniciativa da Fundação FHC e do Centro Edelstein e está disponível em versão eletrônica, gratuita e semestral.