Debates
31 de janeiro de 2014

SP, entre o passado e o futuro: iniciativas presentes para a reinvenção da metrópole

Muitas indústrias saíram da cidade e deixaram amplos espaços vazios. A ocupação desses espaços definirá o perfil da São Paulo do futuro. Sem planejamento e políticas públicas adequadas, prevalecerá a lógica do mercado imobiliário.

No dia 5 de Dezembro, a Fundação FHC e a Endeavor, com apoio da Fundação Brava, realizaram o seminário “São Paulo, entre o passado e o futuro: iniciativas presentes para a reinvenção da metrópole”. Para abordar os aspetos urbanísticos e econômicos envolvidos na questão, convidamos Wilson Poit, dirigente da SP Negócios, agência recém-criada pela prefeitura para incentivar novos investimentos na cidade; Lídia Goldenstein, economista que há anos estuda e assessora empresas e governos sobre o  desenvolvimento das “indústrias criativas” – vetor de reinvenção de antigas cidades industriais na Europa e nos Estados Unidos;  e Milton Braga, curador do Urbem, empresa dedicada a conceber e viabilizar, para São Paulo, projetos que incorporem à metrópole o conhecimento e a experiência internacional mais avançada na área de urbanismo.

Goldenstein começou esclarecendo o lugar que as indústrias criativas ocupam hoje na discussão sobre políticas de desenvolvimento. Trata-se de um lugar central nos países desenvolvidos que se viram afetados pela migração de suas indústrias para a China e outros países da Ásia. Em lugar de insistir nas “velhas indústrias manufatureiras”, fabricantes de produtos em larga escala, com comparativamente baixa incorporação de serviços e tecnologia, resolveram estimular indústrias ligadas à criação de serviços e produtos ligados a novos hábitos de consumo, à fruição artística e ao entretenimento. Junto com o estímulo às “indústrias criativas”, vieram intervenções urbanas visando revitalizar antigas áreas industriais decadentes de grandes cidades americanas e europeias, como Chicago, Londres, etc.

Para São Paulo, este debate é vital. Muitas indústrias saíram da cidade e deixaram amplos espaços vazios. A ocupação desses espaços definirá o perfil da São Paulo do futuro. E essa definição está ocorrendo agora. Sem planejamento e políticas públicas adequadas, prevalecerá a lógica do mercado imobiliário, nem sempre favorável à melhoria da qualidade da vida urbana.

Milton Braga destacou a importância deste momento transitório para a definição de uma nova identidade para São Paulo. O arquiteto chamou a atenção para os projetos de parceria público-privada, voltados ao desenvolvimento de áreas residenciais na região central da cidade, como o Casa Paulista. Com este projeto, pretende-se que habitações para diferentes classes de renda convivam com o comércio, revitalizando a área central da cidade. Braga ressaltou também a relevância de projetos visando à criação de espaços públicos de lazer ao longo dos grandes eixos de transportes representados pelos rios Tietê e Pinheiros. A seu ver, os investimentos em infraestrutura deveriam ser vistos como uma forma de tornar a cidade não apenas mais eficiente, mas também de redesenhar a sua paisagem e tornar mais próxima, humana e amigável a relação de seus moradores com o ambiente urbano.

À frente da SP Negócios, Wilson Poit deu ênfase às iniciativas que a prefeitura pretende adotar para promover a transformação da Zona Leste. Ali residem quatro milhões de pessoas, das quais cerca de três milhões saem para trabalhar todos os dias em regiões distantes. Com o objetivo de equilibrar a oferta de moradia e empregos e melhorar a mobilidade, a Prefeitura pretende levar empresas para a Zona Leste mediante a oferta de incentivos fiscais, como isenção de ISS, IPTU e ITBI. Segundo Wilson Poit, empresas de software e fabricantes de medicamentos e equipamento já têm demonstrado interesse em se instalar na região.

Feitas as exposições, seguiu-se uma intensa discussão entre os palestrantes e pessoas na plateia sobre quais os instrumentos de política a adotar e as atividades econômicas a priorizar não apenas na transformação econômica da Zona Leste de São Paulo, mas também para o desenvolvimento de novas vocações econômicas para a área metropolitana em seu conjunto.