Debates
12 de novembro de 2014

O novo mundo rural e o desenvolvimento do Brasil

Recebemos Marcos Jank, economista agrícola e diretor da BR Foods, John Wilkinson, professor da UFRJ e consultor internacional, e Antônio Marcio Buainain, professor e pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp.

As oportunidades e ameaças para o pujante agronegócio brasileiro estiveram no centro do debate que reuniu Marcos Sawaya Jank, economista agrícola e diretor da BR Foods, John Wilkinson, professor da UFRJ e consultor internacional, e Antônio Marcio Buainain, professor e pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp e um dos editores do recém-lançado “O Mundo Rural Brasileiro no Século XXI” (Embrapa/Unicamp, 2014).

Jank ressaltou as oportunidades decorrentes da evolução do agronegócio brasileiro para uma nova etapa, marcada pela maior internacionalização das empresas agroindustriais, como estratégia para atender a um mercado mundial com demanda crescente por alimentos. Não apenas na área de grãos, mas também de carnes, na qual o Brasil é igualmente competitivo (esse fato ofereceria uma espécie de “proteção natural” ao ciclo de baixa em que parece ingressar o preço de grãos no mercado internacional, afirmou Jank).

A demanda por alimentos adviria sobretudo da China, do Sudeste da Ásia e da Índia, compreendendo países muito populosos em rápido processo de urbanização, expansão das classes médias e mudanças nos hábitos alimentares, na direção do maior consumo de proteínas animais. Os desafios dessa nova etapa consistiriam fundamentalmente na diferenciação de produtos, construção de marcas e implantação de canais próprios no exterior. Segundo Jank, nessa nova etapa, os benefícios para o Brasil serão tanto maiores quanto maior convergência houver entre as estratégias privadas e as políticas governamentais, não apenas quanto às condições de produção, transporte e comercialização em território nacional, mas também de acesso a mercados externos.

Na mesma perspectiva, Wilkinson chamou a atenção para as exigências crescentes de conformidade com padrões internacionais referentes à sanidade, meio ambiente e legislação trabalhista, e afirmou que suas pesquisas indicam ter o agronegócio brasileiro respondido em boa medida a esses novos parâmetros, ressalvando que a afirmação não pode ser generalizada nem entendida como uma senha para o acomodamento. Nessa linha, destacou a necessidade de se estar atento a demandas cada vez mais sofisticadas quanto à qualidade nutricional dos alimentos, sobretudo nos países desenvolvidos, apontando para uma tendência que, no longo prazo, tende a se ampliar para outros mercados.

Sem negar as oportunidades apontadas por Jank e Wilkinson, Buainain mostrou-se mais cauteloso na análise das perspectivas do agronegócio brasileiro, apontando o seguinte conjunto de ameaças, começando pelas mais imediatas e finalizando com as que se colocam a médio prazo:

1 – a tendência já observada à redução dos preços dos grãos no mercado internacional pode prejudicar gravemente os produtores das novas fronteiras agrícolas, que sofrem com custos de logística elevados (Buainain argumentou que o peso dos grãos no agronegócio brasileira é tal que os efeitos de um ciclo de baixa nesse mercado teria efeito sistêmico);

2 – além da deficiência crônica em matéria de logística, verificam-se pressões de custo decorrentes da maior escassez de terras e mão-de-obra;

3 – não estaria claramente encaminhado o avanço tecnológico requerido para fazer face a essas pressões de custo e às demandas internacionais assinaladas por Wilkinson (na teoria a integração lavoura-pecuária-floresta estaria bem resolvida, mas sua aplicação não).

Ainda em relação às ameaças de médio prazo, Buainain e Wilkinson mostraram preocupação com os efeitos da mudança climática sobre a agricultura brasileira. O professor da UFRJ registrou que a preservação da floresta Amazônica é essencial para evitar mudança mais acentuada no regime de chuvas, especialmente no Sudeste e Centro-Oeste. Haveria, portanto, uma comunhão de interesses objetivos entre os agricultores e os ambientalistas. Sobre a importância de bater nessa tecla para conscientizar um número crescente de atores de ambos os lados, houve total concordância entre os três debatedores.