O Brasil no novo mandato presidencial (2015-2018)
Recebemos o consultor José Roberto Mendonça de Barros e o jornalista Fernando Rodrigues. Ambos traçaram um cenário de grandes dificuldades para a presidente reeleita.
Para discutir as perspectivas econômicas e políticas do novo mandato presidencial de Dilma Rousseff, a Fundação FHC reuniu o consultor José Roberto Mendonça de Barros e o jornalista Fernando Rodrigues. Ambos traçaram um cenário de grandes dificuldades para a presidente reeleita.
No âmbito econômico, Mendonça de Barros destacou a concomitância entre o agravamento da situação da economia internacional, à exceção da economia americana, e a deterioração das contas fiscais e externas e do ambiente de investimentos no Brasil. Para o consultor, a perspectiva de retomada dos investimentos parece remota, num quadro em que a desconfiança prevalecente do setor privado se soma à virtual paralisia da Petrobras, com efeitos em cadeia sobre vários setores da economia.
Nesse contexto, Mendonça de Barros avaliou como especialmente difícil o ajuste fiscal prometido pelo novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Sem retomada dos investimentos, não haverá crescimento significativo, o que limita as chances de sucesso do ajuste fiscal, por razões econômicas (queda da receita) e políticas (perda de apoio para realizar integralmente o ajuste), concluiu o consultor. Ele, no entanto, não crê em abandono precoce da estratégia de ajuste fiscal, em vista da ameaça de o Brasil perder o grau de investimento e da inexistência de uma alternativa plausível.
Fernando Rodrigues reforçou o argumento de Mendonça de Barros em sua análise da fragilidade política do novo governo. O jornalista ressaltou a crescente dificuldade da presidente em controlar a agenda do Congresso, em particular na Câmara Federal, onde o PT perdeu dezoito cadeias nas últimas eleições e o PMDB se unificou em torno da liderança de Eduardo Cunha, provável futuro presidente da Casa, visto como um aliado não confiável da ótica do Palácio do Planalto. A falta de apoio sólido no Congresso aumenta os riscos de tropeços na realização do ajuste fiscal, quer pela aprovação de projetos que aumentam o gastos quer por resistência àqueles que contenham despesas.
Rodrigues ponderou que as investigações do escândalo da Petrobras, ao atingirem parte da liderança dos principais partidos da base do governo, poderiam ampliar o raio de manobra da presidente eleita. Ele, no entanto, descrê dessa possibilidade já que o escândalo causa dano à própria presidente.
José Roberto Mendonça de Barros e Fernando Rodrigues reconheceram, ao final, que há muitos anos não se defrontavam com situação tão desafiadora em seus ofícios de fazer previsões sobre a economia e a política brasileira.