Debates
04 de abril de 2019

Mercados Radicais, resposta à crise do capitalismo liberal e da democracia – Por Glen Weyl

O economista norte-americano Glen Weyl apresentou suas ideias nada convencionais à crise de legitimidade do capitalismo liberal e da democracia representativa.

“Sou mais socialista que [Karl] Marx e mais livre mercado que [Milton] Friedman”, disse o economista e político norte-americano Glen Weyl, que esteve no Brasil para lançar seu livro “Mercados Radicais: Reinventando o Capitalismo e a Democracia para uma Sociedade Justa” (ed. Companhia das Letras), escrito em parceria com o jurista Eric Posner (The University of Chicago).

Pesquisador principal na Microsoft Research New York City, fundador e presidente da RadicalxChange Foundation, Weyl apresentou suas ideias nada convencionais à crise de legitimidade do capitalismo liberal e da democracia representativa. “Estamos lutando contra o capitalismo e o Estado-nação. Muita gente na esquerda quer usar o Estado como solução contra o capital, mas é um erro”, disse.

“O conjunto de ideias e o movimento social que ajudamos a criar abrangem tanto o ceticismo da direita sobre o Estado e sua ênfase na liberdade, como o ceticismo da esquerda em relação ao individualismo e sua ênfase na igualdade e na cooperação. Precisamos nos libertar dos termos do atual debate político aos quais estamos presos e inventar novas tecnologias sociais que nos permitam, não apenas reconciliar essas ideias, mas entender cada uma de maneira mais precisa, incorporando as preocupações de ambas”, explicou o autor, considerado pela revista Wired como um dos 25 líderes que moldarão os próximos 25 anos no setor de tecnologia.

Uma das propostas radicaliza o próprio conceito de propriedade, que, segundo Weyl, está na base da brutal concentração de renda e da crescente desigualdade social existentes hoje no mundo. O jovem economista propõe a criação de um sistema de leilões contínuo, em que todo proprietário teria de declarar publicamente o valor de seu bem e, se alguém aceitar pagar aquele valor, seria obrigado a vendê-lo. Para desestimular avaliações exageradas, o valor declarado também seria utilizado para fins tributários, ou seja, quem publicar um valor muito alto pagaria impostos equivalentes. “A ideia por trás dos leilões é valorizar o uso de bens públicos e privados, móveis ou imóveis, em detrimento da posse”, explicou.

Para o pesquisador visitante na Escola Woodrow Wilson de Assuntos Públicos e Internacionais (Princeton University), a radicalização dos mercados livres exige ir além da ideia fundamental do Estado-nação democrático: uma pessoa, um voto. Cada eleitor receberia anualmente um estoque de votos. Se ele se importa muito como determinada questão, pode usar todo seu estoque para votar nela e até mesmo comprar mais votos (ou vendê-los). No entanto, o custo de cada voto é progressivo (o primeiro voto custa 1, o segundo custa 4, o terceiro custa 9, e assim por diante). Os autores chamam esse sistema de “votação quadrática”.

 “O Estado-nação não corresponde ao tipo de problemas que temos hoje. Não lida com o aquecimento global, não lida com tecnologia, porque esses são fenômenos globais e exigem respostas globais”, concluiu o autor, considerado pela revista Wired como um dos 25 líderes que moldarão os próximos 25 anos no setor de tecnologia.

Otávio Dias, jornalista especializado em política e assuntos internacionais, foi correspondente da Folha em Londres e editor do site estadao.com.br. Atualmente é editor de conteúdo da Fundação FHC.