India Grows at Night when Government Sleeps
“Um Estado que seja aliado do desenvolvimento e do crescimento deve ser capaz de tomar decisões rápidas, submetidas ao ‘império da lei’ e pelas quais os políticos possam ser responsabilizados”, disse o escritor indiano Gurcharan Das.
No dia 28 de agosto de 2012, a Fundação FHC recebeu o escritor indiano Gurcharan Das. Formado em Filosofia pela Universidade de Harvard e com pós-graduação em negócios e administração pela mesma instituição, Das foi CEO da Procter & Gamble Índia e diretor de planejamento estratégico da Procter & Gamble mundial. Atualmente, ele se dedica a proferir palestras mundo afora e a escrever livros e artigos sobre temas diversos. Em sua obra mais recente – “India Grows at Night – A Liberal Case for a Strong State” –, suas atenções voltam-se ao papel do Estado na promoção do desenvolvimento e do crescimento econômico, tema esse que serviu como fio condutor de sua palestra na Fundação FHC.
Para Das, um Estado que seja aliado do desenvolvimento e do crescimento deve ser capaz de tomar decisões rápidas, submetidas ao “império da lei” e pelas quais os políticos possam ser responsabilizados. Esse modelo clássico de Estado liberal não teria no Estado indiano o seu melhor exemplo. Ali, o que se vê é um Estado que já se mostrou bem-sucedido no estabelecimento de normas e de canais de comunicação com os cidadãos, mas que – em virtude de inúmeras amarras políticas e burocráticas – ainda carece da habilidade de agir com rapidez. Em um cenário como esse, o crescimento e o desenvolvimento econômico do país estariam sendo puxados por iniciativas privadas, sejam elas de empresas ou de comunidades. É por essa razão que Das afirma ser a Índia um país que cresce “à noite”, quando o Estado “dorme”, quando – finalmente – descansam os pesados entraves burocráticos e políticos.
Apesar de enaltecer as virtudes do ativismo privado, Das não o considera suficiente para assegurar o desenvolvimento. Não apenas as iniciativas privadas podem ser insatisfatórias sem o apoio estatal, mas, ainda mais importante, podem produzir melhores resultados para o conjunto da sociedade quando apoiadas pelo Estado. Para ilustrar esse ponto, Das menciona o exemplo de Gurgaon, que – sem qualquer apoio estatal – converteu-se, em um período de aproximadamente 25 anos, de uma localidade sem qualquer atrativo econômico em um dos principais motores do crescimento indiano. Ali, se o Estado houvesse provido bens públicos – como, por exemplo, infraestrutura –, a cidade, que sofre com problemas sociais e urbanos, estaria ainda melhor.
Mas como desenvolver um Estado liberal forte, que seja um aliado do desenvolvimento e do crescimento econômico? Para Das, reformas econômicas são úteis, pois reduzem o poder discricionário de políticos e burocratas. Todavia, isso não seria suficiente. A Índia necessitaria de um forte reformador de instituições políticas, alguém que as aprimorasse, ao invés de destruí-las. Sua aposta é que essa liderança virá da nova classe média do país, que vem crescendo aceleradamente e que, em 2022, deverá corresponder a cerca de 50% da população, contra um terço nos dias de hoje. A nova classe média indiana é jovem (50% da população indiana está abaixo dos 26 anos) e tem se mostrado capaz de agir, exigindo maior transparência e responsabilização do governo. Na Índia atual, os cidadãos sentem-se frustrados com a democracia, afirmou Das. Ao lado da frustração, no entanto, observa-se a retomada do popular conceito indiano de “dharma”, que, basicamente, significa “tentar fazer a coisa certa”. A nova classe média indiana seria o motor dessa retomada.