Fernando Henrique Cardoso: Biografia

Sociólogo, professor e pesquisador de renome internacional, FHC escolheu como principais temas de estudo as mudanças sociais, o desenvolvimento socioeconômico e os desafios da democracia no Brasil e na América Latina.

Foto de Fernando Henrique Cardoso

Biografia

No final dos anos 1970, com o início da redemocratização do país, decidiu entrar para a política. Foi senador da República, ministro das Relações Exteriores e da Fazenda e presidente da República por dois mandatos consecutivos.

Curriculum-vitae completo de FHC Bibliografia completa de FHC

Nasceu no Rio de Janeiro em 18 de junho de 1931, em uma família de militares. Em 1953, casou-se com Ruth Corrêa Leite Cardoso (1930-2008), com quem teve três filhos. Formado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), da qual se tornou professor em 1953, obteve também os graus de doutor e livre docente.

Foto de duas imagens dispostas lateralmente. Foto em preto e branco da família de Fernando Henrique Cardoso: o pai, Leonidas Cardoso, a mãe, Nayde Silva e os irmãos Gilda e Antônio Geraldo; São Paulo, década de 1940. À direita, foto em preto e branco de FHC e Ruth Cardoso sentados em um tronco de árvore, década de 1940.

Engajado nas lutas pela melhoria do ensino público e modernização da universidade, FHC sofreu ameaças após o golpe de 1964 e decidiu se exilar com a família no Chile e na França nos anos seguintes. Em 1968, voltou ao Brasil e assumiu, por concurso público, a cátedra de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP). Em 1969, com apenas 38 anos de idade, foi aposentado compulsoriamente e teve seus direitos políticos cassados pelo Ato Institucional nº 5.

Em 1969 fundou em São Paulo, com outros intelectuais cassados pelo regime militar, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), que se tornaria um importante núcleo de pesquisa e reflexão sobre a realidade brasileira. Paralelamente, lecionou em universidades norte-americanas (Princeton University e University of California, Berkeley) e europeias (Sorbonne Université e University of Cambridge).

Em palestras e artigos publicados em vários órgãos de imprensa, destacou-se como crítico da ditadura militar e defensor de uma transição pacífica para a democracia. Entre 2003 e 2021, após deixar a Presidência, escreveu colunas mensais para os jornais O Globo e O Estado de S.Paulo.

O intelectual

Além da Universidade de São Paulo, da qual é professor emérito, FHC deu aulas em universidades renomadas como a Universidad de Santiago, no Chile; a Stanford University e a University of California, Berkeley, na costa leste americana; a Brown University, na costa oeste; a University of Cambridge, na Inglaterra; e na Université Paris Nanterre, École des Hautes Études en Sciences Sociales e Collège de France, na França. Foi presidente da Associação Internacional de Sociologia (1982-1986). Recebeu o Doutorado Honoris Causa de mais de 20 universidades, das mais prestigiadas. Foi membro honorário estrangeiro da American Academy of Arts and Sciences.

Duas fotos dispostas lado a lado. À esquerda, há a foto de um documento datilografado com anotações do presidente Fernando Henrique Cardoso. À esquerda, há uma foto do presidente Fernando Henrique Cardoso posando para um retrato em frente a uma estante de livros.

Seus livros foram publicados no Brasil e no exterior. O conjunto de seus pronunciamentos e discursos quando presidente da República, proferidos no programa de rádio ‘Palavra do Presidente’, foi publicado em dezesseis volumes pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Brasília, 2002). Escreveu artigos em periódicos de vários países. No Brasil, colaborou nas revistas Anhembi, Brasiliense, Novos Estudos Cebrap e Revista USP, entre outras.

Em 2005, foi eleito um dos cem maiores intelectuais públicos do mundo, em levantamento da revista britânica Prospect. Em 2012, foi agraciado com o Prêmio John W. Kluge, concedido pela Library of Congress, dos EUA, que premia quem se destaca em realizações nas ciências humanas. FHC foi escolhido por ser um dos principais estudiosos da economia política na história recente latino-americana.

Para uma visão panorâmica dos documentos custodiados pela Fundação, clique aqui para acessar o Guia do Arquivo Fernando Henrique Cardoso.

O político

A convite de Ulysses Guimarães, presidente do MDB, coordenou em 1974 a elaboração da plataforma eleitoral do então único partido de oposição ao regime militar. Em 1978, concorreu ao Senado pelo MDB, ficou em segundo lugar e se tornou suplente de Franco Montoro. Em 1983, com a eleição de Montoro para o governo de São Paulo, assumiu sua vaga no Senado Federal por São Paulo. Em 1984, teve participação destacada na campanha das Diretas Já e na articulação da chapa vitoriosa de Tancredo Neves e José Sarney (vice) ao Palácio do Planalto, que resultou no fim do regime militar no ano seguinte.

Indicado líder do governo no Senado por Tancredo, foi confirmado no cargo por José Sarney, que assumiu a Presidência com o adoecimento do político mineiro na véspera de sua posse e sua morte algumas semanas depois. Neste cargo, articulou reformas político-eleitorais que abriram caminho para a redemocratização do país, concluída em 1989, com a volta da eleição direta para presidente da República.

Em 1985, foi candidato a prefeito de São Paulo e perdeu por 30.000 votos para o ex-presidente Jânio Quadros (PTB). No ano seguinte, reelegeu-se senador por São Paulo com 6 milhões de votos, a segunda maior votação no Estado numa eleição majoritária. Foi líder do PMDB no Senado e um dos relatores da Assembleia Nacional Constituinte de 1987-88.

No fim de 1988, insatisfeito com os rumos escolhidos pelo PMDB tanto na política nacional como em São Paulo, decidiu fundar o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ao lado de Mario Covas, Franco Montoro, José Serra e outras lideranças políticas social-democratas.

Duas fotos dispostas lado a lado. À esquerda, há uma foto em preto e branco de Fernando Henrique Cardoso visto de perfil ao lado de outros dois homens. À direita, há dois homens debruçados sobre uma mesa. Um dos homens é Fernando Henrique Cardoso, que usa um crachá em um paletó xadrez.

Depois do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, em outubro de 1992, assumiu o Ministério das Relações Exteriores no governo de Itamar Franco. Em maio de 1993, atendendo a uma convocação do presidente, transferiu-se para o Ministério da Fazenda. Na época, a inflação beirava os 30% ao mês, o poder de compra da população diminuía a cada dia e a economia brasileira era motivo de grande preocupação.

Contra a opinião dos que só julgavam ser possível atacar a inflação após a posse de um novo governo, FHC reuniu um time de economistas de peso e elaborou um sofisticado plano de estabilização, o Plano Real, lançado em 1994. Este incluiu um importante esforço de redução do déficit fiscal e uma reforma monetária, com a introdução da URV, culminando com a entrada em circulação de uma nova moeda, o Real, em julho de 1994. 

Embora não fosse economista, FHC assumiu para si o papel de explicar o passo a passo do Plano Real à população, assim como a articulação política para a aprovação de medidas fundamentais para a estabilização da economia pelo Congresso Nacional. 

Em abril de 1994, deixou o Ministério da Fazenda para assumir a candidatura à Presidência da República pela coligação formada por seu partido, o PSDB, o Partido da Frente Liberal (PFL) e o Partido Trabalhista do Brasil (PTB). Em 3 de outubro, foi eleito presidente no primeiro turno, com 54,3% dos votos. Tomou posse em 1º de janeiro de 1995.

No Palácio do Planalto

Inflação baixa, modernização da economia, fortalecimento do Estado como regulador dos mercados e promotor de políticas sociais, consolidação da democracia – estes foram os principais objetivos dos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República.

As reformas do governo FHC impulsionaram a modernização da infraestrutura econômica, com a abertura para investimentos privados nos setores de telecomunicações, energia elétrica, petróleo, transportes e mineração. Criaram-se agências independentes para regular esses setores. A Petrobras se tornou uma corporação pública, controlada pelo Estado, mas submetida à competição com empresas. O fim do monopólio fortaleceu a empresa.

O Banco Central ganhou autonomia operacional para promover o saneamento do sistema financeiro público e privado, parte do qual não estava preparado para viver num país com inflação baixa.

O governo federal assumiu dívidas de Estados e municípios em contrapartida a um programa de ajuste fiscal que os levou a aderir a um esforço conjunto de reorganização das finanças públicas, indispensável para a consolidação da estabilidade da economia. A Lei de Responsabilidade Fiscal estabeleceu as regras gerais de um regime fiscal sustentável. Desequilibrada, a Previdência Social passou por uma reforma que atenuou a tendência deficitária do sistema.

A politica social também passou por transformações importantes, viabilizadas pelo fim da inflação alta, crônica e crescente. O SUS saiu do papel, a Educação Fundamental passou a ser de fato para todos, os programas de assistência social se tornaram políticas de estado e não caridade do governo de plantão. Pela primeira vez, adotou-se um programa de reforma agrária em grande escalada. O programa Comunidade Solidária engajou a sociedade civil em programas de desenvolvimento local, estimulados pelo poder público, mas sem tutela política e práticas clientelistas.

Com sua credibilidade recuperada pela estabilização da economia o Brasil se projetou na cena internacional. Normalizou suas relações com os credores internacionais (perturbadas desde a moratória da década anterior), assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear, liderou o acordo de paz entre Peru e Equador, promoveu a Iniciativa de Integração das Infraestruturas da América do Sul.. Afirmou-se como um país democrático, aberto ao mundo, política e economicamente mais previsível, consciente da sua liderança regional e disposto a usá-la em favor da democracia e da integração.

A estabilização da economia, com a contenção do processo inflacionário, permitiu o crescimento da renda média dos trabalhadores. Contudo, crises internacionais sucessivas, mudanças estruturais na economia e altas taxas de juros impediram um crescimento mais elevado. Nesse contexto, o desemprego e a informalidade cresceram, em especial nas principais cidades. Ainda assim, a pobreza se reduziu bastante, graças à queda duradoura da inflação e às políticas sociais do governo, entre elas a de valorização do salário mínimo.
Pela evolução positiva dos indicadores sociais do Brasil em seu período de governo, FHC recebeu em 2002 o prêmio “Mahbub ul Haq por Notável Contribuição ao Desenvolvimento Humano”, concedido pela Organização das Nações Unidas.

A consolidação da democracia foi alcançada com o reconhecimento das violações de direitos humanos durante a ditadura, a criação do Ministério da Defesa, sob comando civil, e a transição civilizada para o governo de Luiz Ignácio Lula da Silva, presidente eleito pela oposição ao governo FHC. A democracia foi também um elemento importante da política externa do Brasil, exemplificado pela inclusão da “cláusula democrática” entre os compromissos legalmente assumidos pelos países-membros do Mercosul.