Colégio Santa Maria
Questões dos alunos:
1. Em seu governo, como tentativa de conter a imensa inflação que já assolava o Brasil desde a depressão econômica advinda da crise do chamado “milagre econômico”, foi implantada uma série de medidas econômicas, tais como privatizações e uma abertura econômica marcada pela redução de tarifas de importação e facilitação de prestação de serviços internacionais. Tais medidas passaram a ser taxadas como medidas neoliberais. Nesse sentido, o Estado passa consequentemente a intervir menos na economia, o que poderia explicar de certa forma o sucesso do Plano Real no que diz respeito à recuperação econômica. Com isso, ao fim de seu governo registrou-se um PIB de 505 bilhões de dólares. Contudo, no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, considerado um governo mais interventor e mais preocupado com questões sociais, chegamos ao PIB de aproximadamente 1,5 trilhões de dólares e houve da mesma forma um crescimento do PIB per capita, uma dívida pública menor, um crescimento nas exportações etc. Quero, com essa introdução, fazer duas perguntas: o fato de um Estado interventor alcançar indicativos econômicos melhores que de um Estado menos interventor nos mostra que o modelo mais avesso ao neoliberalismo é mais eficiente ou realmente o crescimento da economia diz respeito a outro contexto político-econômico diferente do governo do senhor, de forma que tais crescimentos eram mais propícios? Na atual conjuntura econômica, do que nós brasileiros precisamos? De um Estado que intervém constantemente na economia ou de um Estado que intervém pouco?
2. Qual o senhor acha que é o papel do jovem na política atual?
3. Junto com as manifestações de junho torna-se mais evidente uma massa esquerdista mais radical, sendo o grupo mais visível o dos aderentes da técnica anarquista Black Bloc de manifestação, que se iniciou na Alemanha na década de 1970. Ao mesmo tempo, grupos reacionários de direita, amantes do Estado fascista e da hierarquia, estão aumentando e se tornando cada vez mais radicais, sendo que grande parte desses direitistas estão clamando pela volta da ditadura. Essas discrepâncias entre os radicais podem vir a aumentar cada vez mais. Por exemplo, as federações anarquistas nunca receberam tantas candidaturas como estão recebendo hoje e também temos ataques de neonazistas à federação Gaúcha, que aconteceu em junho, junto com as manifestações sobre os preços dos ônibus. Em relação a tudo isso, como você vê um possível futuro da política brasileira com esses grupos radicais entrando no meio político?
4. Eu gostaria de perguntar acerca das relações entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo. A gente vê hoje o governo tendo que ceder frente a exigências do Poder Legislativo quanto aos seus projetos e qual a verba que eles têm disponível para aprova-los. E uma grande dificuldade desse governo atual é ter os seus projetos aprovados no Congresso passando inclusive na base aliada. Durante o governo do senhor, qual era a relação entre a Câmara dos Deputados, o Senado e a Cúpula do governo, principalmente se existia uma negociação frente ao que seria aprovado ou não, ou se o senhor tinha que ceder em pontos específicos que eram exigidos pelos congressistas?
5. Eu gostaria de saber qual é o problema mais sério do Brasil no ponto de vista do senhor e quais medidas seriam tomadas se o senhor ainda fosse presidente.
6. A respeito das manifestações, o senhor afirmou que elas são difusas atualmente devido à incerteza dos manifestantes em relação ao que exatamente desejam e em relação ao caminho a ser seguido para atingir tais desejos. Mas considerando que é o Poder Legislativo o responsável por propor as leis no Brasil, o senhor não acha que as manifestações difusas são resultado de um Poder Legislativo incompetente e distante dos reais interesses da população?
7. Seriam vândalos aqueles que destroem os bancos que roubam milhões? Seriam vândalos aqueles que lutam contra o Estado elitista que deixou sucatear a educação e também hospitais públicos? Gostaria de deixar aqui uma reflexão: enquanto a classe média e a elite têm acesso à saúde e à educação, a periferia foi deixada literalmente na periferia, sem acesso a educação e a hospitais de qualidade. Deixo aqui também uma observação de que novos hospitais públicos foram privatizados bem recentemente, inclusive pelo governo Alckmin. O argumento da violência pela violência é inválido contra a luta revolucionária pela liberdade e contra a opressão estatal muito presente na periferia. Afinal, quantos foram os “Amarildos” que já sumiram? Quantos já morreram na fila do S.U.S.? Violento não é o rio que destrói as suas margens, e sim suas margens que o oprimem. Ação direta não é violência pela violência. Violência pela violência é a violência pela elite, é a violência que o Estado promove. Deixo aqui a frase de uma anarquista americana chamada Emma Goldman: “Se votar mudasse algo, seria proibido”.
8. Hoje em dia se fala muito do José Mujica, presidente do Uruguai, o qual se mostra bastante singular pela humildade que não se vê nos líderes de Estado de hoje. O que o senhor pensa sobre as novas políticas que vêm sendo adotadas por ele? Elas caberiam no Brasil?
9. Os órgãos internacionais responsáveis por amenizar a pobreza e pela melhoria das condições de vida no mundo inteiro, como o FMI e o Banco Mundial, muitas vezes parecem ignorar os países menores, porque os países com maior poder acabam monopolizando as escolhas desses órgãos de acordo com os seus interesses. Esses problemas se devem a uma falha institucional ou humana dentro desses órgãos?
10. Junto com a globalização e a revolução tecnológica vem a responsabilidade do governo com a população frente ao progresso social e econômico do país. Por “progresso” quero dizer o verdadeiro comprometimento dos nossos representantes que, por meio de decisões políticas, honrem o voto que lhes foi confiado. Tendo em vista os diversos casos de corrupção presentes não só no atual governo, mas também nos anteriores, e também a longa durabilidade dos partidos políticos brasileiros, não seria correto dizer que a lentidão do progresso nacional está ligada à falta de partidos políticos que realmente apresentam a modernidade necessária para o país e, portanto, a execução de uma reforma política séria e não como a comentada pelo atual governo?
11. Falando na atmosfera atual do MERCOSUL, com a entrada da Venezuela e todos os problemas com o Paraguai, como é que o senhor vê o futuro do MERCOSUL vendo também os problemas na Argentina com a presidente Kirchner e também como essas eleições no Paraguai poderiam influenciar as relações com o Brasil na questão da usina de Itaipu?
12. Como o senhor enxerga os últimos acontecimentos dentro do PSDB e as obras do metrô?
13. Recentemente o governo perdoou dívidas de diversos países africanos com a clara ambição de uma aproximação econômica. Também observamos disputas entre a Vale e empresas de mineração chinesas no âmbito da exploração das reservas minerais dos mesmos. Qual a importância que o senhor considera hoje em dia da África para a economia mundial e quais tipos de parceira o Brasil poderia estabelecer buscando maior globalização da economia e, no âmbito da indústria nacional, crescer nesse sentido, buscando o mercado econômico africano?