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Polarização política: como superá-la e promover o diálogo na sociedade

/ Transmissão online - via Zoom


A polarização política não é necessariamente ruim para a democracia porque a diferença de visões, atitudes e políticas pode ser positiva e impulsionar a transformação da realidade. Mas, quando ela se torna extrema e divide a sociedade em dois grupos antagônicos, que veem o outro como uma ameaça existencial, passa a ser perniciosa, prejudica a governabilidade e pode levar à erosão da própria democracia

“Quando a divisão se entrincheira na sociedade, é muito difícil superá-la. É necessário então haver lideranças capazes de construir pontes, o que exige bastante coragem”, disse a cientista política norte-americana Jennifer McCoy – especialista em democracia e polarização, mediação e prevenção de conflitos, processos eleitorais e política latino-americana – neste webinar realizado pela Fundação FHC e pela RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade).

Segundo McCoy, professora na Universidade do Estado da Geórgia e pesquisadora do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, diante de um governante polarizador, que usa a força do cargo e os recursos do Estado para aprofundar a polarização, os partidos, movimentos e políticos de oposição devem se unir e colocar em prática uma estratégia de “despolarização ativa”. Como? Encontrando temas que superem a clivagem binária que se estabeleceu na sociedade e recuperando a política como disputa entre adversários que se respeitam mutuamente e não como uma guerra entre amigos e inimigos.

“Em primeiro lugar, identificar aquilo que pode nos unir enquanto sociedade e país. Focar em novas ideias e construir uma alternativa mais promissora para o futuro. Joe Biden buscou fazer isso durante sua campanha e deu certo. Agora, o desafio é colocar tudo o que propôs em prática como presidente dos Estados Unidos”, disse.

“Em vez de discursos divisivos, como ataques aos imigrantes ou às minorias, defender por exemplo mais justiça social ou medidas para incrementar a igualdade racial, a diversidade ou mesmo a própria democracia”, exemplificou. A oposição também deve evitar a tentação de propor um retorno ao status quo que existia antes, pois isso não levaria em conta as razões do descontentamento que levaram o grupo atualmente no poder a chegar lá.

        ‘Não basta remover o líder polarizador do poder’

Ex-diretora do Programa para as Américas do Carter Center (1998-2015), quando coordenou projetos de fortalecimento democrático, mediação e diálogo no continente, a palestrante elencou alguns pontos nos quais aqueles que desejam superar a polarização devem prestar atenção: 

- Não basta remover o líder polarizador do poder, por meio de eleições ou outra forma legal de fazê-lo; é preciso mudar a narrativa do campo das identidades para o campo das ideias;

- É fundamental evitar sentimentos e atitudes vingativas, em vez disso os oponentes devem ser respeitados como atores legítimos do processo político;

- É preciso o quanto antes buscar soluções para resolver ou ao menos diminuir os problemas que levaram à polarização, sem o que ela não vai desaparecer;

- É essencial evitar políticas do tipo ‘o vencedor leva tudo’, pois isso alija parte da população do poder e incita a polarização.

“As instituições democráticas têm um papel muito importante nesse processo de superação da polarização. O Judiciário deve atuar de forma realmente independente e imparcial, pois se forem percebidos como parciais por parte da população, existe risco de suas decisões serem questionadas”, explicou.

Também o Legislativo deve agir com responsabilidade, evitando a paralisia de suas atividades e fomentando o diálogo. Deve evitar a recorrência de processos de impeachment, que em geral dividem a sociedade e desacreditam a democracia. 

Já ao final de sua apresentação, durante a qual comentou casos específicos de países que vivem situações de polarização, entre eles o Brasil (assista ao vídeo resumo nesta página ou acesso o vídeo integral na seção Conteúdos Relacionados, à direita), Jennifer McCoy disse ter grande esperança na juventude para superar esse grave fenômeno contemporâneo. 

“Aqui nos Estados Unidos, os jovens são bem mais tolerantes em relação às diferenças ideológicas, religiosas ou raciais e estão muito preocupados com o meio ambiente e as mudanças climáticas, que ameaçam seu futuro. Eles estão muito ativos politicamente, fazem protestos, organizam movimentos, exigem mudanças. Espero que cheguem logo ao poder e o exerçam de forma menos divisiva e mais democrática”, concluiu. 

        Saiba mais:

Leia o artigo “A Crise dos Partidos Tradicionais: Superando a Polarização”, de Jennifer McCoy e Murat Somer, publicado no Journal of Democracy em Português em maio de 2021.

Assista ao vídeo de 6 minutos que resume a conversa entre o ex-presidente FHC, a deputada Tabata Amaral e o teólogo e ativista negro Ronilso Pacheco, sobre o tema ‘Legado da Democracia e Futuro da Política’.

Ouça o programa de podcast (em inglês) em que Francis Fukuyama analisa os as dificuldades da política norte-americana, a ascensão da China e os desafios da democracia a esta altura do século 21.

 

       Leia também:

A derrota de Trump e o futuro da extrema direita: Uma conversa com Anne Applebaum

Respostas Constitucionais a retrocessos na democracia - Com Dieter Grimm e Luís R. Barroso

O desafio de revitalizar a democracia enquanto ainda é tempo. Por Larry Diamond

 

Otávio Dias é editor de conteúdo da Fundação FHC. Jornalista especializado em política e assuntos internacionais, foi correspondente da Folha em Londres e editor do site estadao.com.br.

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