Debates
04 de setembro de 2019

Lugares da memória e mudança urbana em grandes cidades: outro caminho é possível?

Cada cidade tem sua história particular e única, diferente das de outras cidades, e é fundamental proteger esse legado para que seus habitantes possam dialogar com o passado, compreender o presente e ajudar a construir o futuro. “Ninguém quer congelar o passado, por isso a rigidez das instituições de tombamento é criticada. Também não adianta preservar um monumento se os cidadãos não se identificam com ele. A atitude correta é preservar o que deve ser preservado e, ao mesmo tempo, possibilitar a transformação da cidade por meio de uma legislação flexível, inteligente e contemporânea”, disse Giovanna Rosso Del Brenna, professora da Escola de Especialização em Patrimônio Histórico-Artístico da Universidade de Gênova.

Em sua palestra, a historiadora da arte italiana deu vários exemplos de demolições de monumentos ou mesmo bairros inteiros de cidades ao redor do mundo, inclusive na Europa. “Esse apagamento de partes inteiras da cidade cria vazios de memória, referências e sentidos, que, depois, dificilmente são preenchidos”, disse.

“O centro de São Paulo, por exemplo, tem prédios e monumentos bonitos, mas de noite e nos finais de semana se transforma em uma cidade praticamente morta. Todos os últimos prefeitos anunciaram projetos para reviver o centro, mas nenhum conseguiu levá-los adiante. A inação de várias gerações de burocratas transformou o coração da maior cidade brasileira em um enorme vazio urbano”, comentou o arquiteto Paulo Julio Valentino Bruna, professor colaborador da Universidade de São Paulo.

 

Otávio Dias, jornalista especializado em política e assuntos internacionais, foi correspondente da Folha em Londres e editor do site estadao.com.br. Atualmente é editor de conteúdo da Fundação FHC.