Educação no Brasil: 15 ideias transformadoras
“Vivemos uma crise de aprendizado. Há muitas coisas diferentes entre a escola pública e a particular, mas o que elas têm em comum? Sinto informar que são os professores”, afirmou Claudia Costin, que foi diretora global de educação do Banco Mundial.
Em 2015, o Brasil e a maior parte dos países em desenvolvimento cumpriram o objetivo de dar acesso ao ensino básico a todas as crianças e adolescentes , um dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabelecidos pela ONU, mas os alunos , mesmo estando na escola, não estão aprendendo. “Não estamos sozinhos nesta situação. Existe uma crise de aprendizado em grande parte do mundo em desenvolvimento”, afirmou Claudia Costin, Diretora Global de Educação do Banco Mundial desde 2014 até junho passado, em palestra na Fundação Fernando Henrique Cardoso.
“Não estamos sozinhos nesta situação. Existe uma crise de aprendizado em grande parte do mundo em desenvolvimento”
Embora esteja entre as dez maiores economias do mundo, o Brasil ficou na 58ª posição em matemática em um ranking de 65 países/economias do mundo no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2012. “Quando refletimos sobre o motivo, costumamos dizer que é porque universalizamos muito tarde, os mais pobres finalmente entraram na escola e por isso estamos mal posicionados. Mas, se pegarmos os 25% mais ricos da amostra do Brasil e compararmos com os 25% mais ricos de outros países, ainda estamos na 57ª posição. Ou seja, não é só a escola pública que está ruim, a particular também está”, afirmou Claudia, que entre 2009 e 2014 foi secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro.
“Há muitas coisas diferentes entre a escola pública e a particular, mas o que elas têm em comum? Sinto informar que são os professores. Além da carreira ser pouco atrativa, eles não estão sendo bem formados. Precisamos parar de vê-los como fornecedores de aulas e passar a vê-los como asseguradores de aprendizagem”, disse a palestrante.
A boa notícia, segundo Costin, é que o Brasil é pioneiro na criação de um sistema próprio de avaliação educacional. “Onde vou presto homenagem ao ex-ministro da Educação Paulo Renato de Souza (Governo FHC, 1995-2003), que a partir de 1995 teve a coragem de transformar o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica, de 1990) em um programa permanente, com avaliações a cada dois anos. Assim como os governos Lula e Dilma, que ampliaram os sistema de avaliação de aprendizagem. Falta fazer muita coisa, como melhorar o compartilhamento desses dados com as escolas, mas pelo menos temos uma avaliação nacional. Muitos países não têm”, disse a palestrante.
Segundo Claudia Costin, as novas metas da ONU para a educação no mundo até 2030 estabelecem 17 objetivos, mas ela destacou dois:
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Assegurar que todos os meninos e as meninas tenham acesso a programas de primeira infância de qualidade, incluindo educação pré-escolar, para que estejam prontos para o ensino primário;
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Assegurar que todos os meninos e as meninas tenham uma educação primária e secundária completa, gratuita, de qualidade e equitativa que produza resultados de aprendizagem relevantes e efetivos.
Agrupamos nos 15 tópicos a seguir diversas ideias apresentadas por Claudia Costin, com base na sua experiência no Banco Mundial e na Secretaria Municipal de Educação do Rio.
Meninas na escola garantem um futuro melhor
A questão de gênero é muito importante porque em alguns países, como o Paquistão, as meninas ainda enfrentam dificuldades para ir à escola. Costin citou pesquisa feita pelo economista colombiano Guilhermo Perry para o Banco Mundial mostrando que, se as meninas de um determinado país ou região não concluírem o secundário, a próxima geração será pobre. “O principal fator para evitar o fator intergeracional da pobreza é as meninas concluírem o secundário”, afirmou Claudia.
Costin citou também o livro “The Knowledge Capital of Nations: Education and the Economics of Growth” do economista norte-americano especializado em educação Eric A. Hanushek, segundo o qual existe um vínculo direto entre crescimento econômico e o investimento em educação, quando este produz resultados de aprendizagem. “A partir de dados agregados da América Latina, ele mostra que, se tivéssemos chegado a resultados no PISA próximos ao do Leste Asiático, nossa região teria uma taxa média de crescimento do PIB a longo prazo bem superior”, afirmou a diretora do Banco Mundial.
De olho na primeira infância
Segundo Claudia Costin, a primeira infância é uma fase em que alimentação, saúde e assistência social têm de estar juntas. Também é essencial uma política pública que mensure o desenvolvimento das crianças nos dois primeiros anos para que se possa agir a tempo. “Se uma criança tem, por exemplo, algum sinal de autismo, é fundamental saber o quanto antes”, afirmou. No Rio deu-se prioridade, na concessão de vagas em creche, sempre limitadas, para crianças de famílias que recebem Bolsa Família. “Ao contrário da pré-escola e do ensino fundamental, que são universais, a creche é uma política compensatória. As crianças entravam abaixo do padrão internacional, mas aos 3 anos já estavam na média global”, disse, se referindo ao nível de desenvolvimento cognitivo esperado para essa faixa etária.
Mundo em transformação exige novas competências
Claudia salientou que, como o mundo está mudando muito rapidamente, diversos tipos de trabalho estão deixando de existir e muitos outros ainda desaparecerão, as escolas precisam promover novas competências e ensinar as crianças a pensar e serem aprendizes permanentes. “A demanda no mundo está migrando de competências rotineiras para competências não rotineiras, tanto cognitivas como interpessoais. Devemos focar na capacidade das crianças de desenvolver o raciocínio abstrato”, disse.
“John Dewey (1859-1952), que foi amplamente divulgado no Brasil pelo educador Paulo Freire (1921-1997), já falava em formar cidadãos críticos, capazes de não depender dos meios de comunicação de massa para formular seu próprio juízo e de não ir atrás de líderes geniais, estejam eles no governo ou na sala de aula. O aluno deve aprender a pensar por si próprio em qualquer ramo do conhecimento”, continuou, criticando a forma pela qual o pensamento de Dewey foi distorcido no período mais recente com a transformação do pensamento crítico em doutrinação política.
Bicicleta com pneu murcho
Costin comparou as escolas brasileiras a uma bicicleta com pneu murcho: não adianta apenas acelerar a velocidade — ou seja, construir mais escolas e injetar mais professores e livros num sistema falido — porque ela não vai andar mais rápido. “Ao formular a política educacional, temos de ser obsessivos em relação aos resultados. O que interessa — e nisso o Programa Todos pela Educação acertou — é criar um indicador que mostre como os sistemas de educação estão avançando”, disse.
Claudia indicou também o livro “The Rebirth of Education: Schooling Ain’t Learning”, de Lant Pritchett, para quem, se não houver um foco nas metas de aprendizado e na implementação de mudanças fundamentais para cumpri-las, as escolas não serão capazes de oferecer aos estudantes do mundo em desenvolvimento aquilo de que eles realmente necessitam.
Reforço escolar
A palestrante defendeu o reforço escolar e criticou os que são contrários a esse tipo de programa: “Uma vez participava de um debate no MEC (Ministério da Educação) e, ao relatar o sistema de reforço escolar que colocamos em prática na cidade do Rio, uma professora universitária pediu a palavra e disse ‘Que absurdo, reforço escolar é coisa de escola excludente!’. Por minha sorte, uma colega muito séria, pedagoga, virou-se para ela e respondeu: ‘Nós nos conhecemos e eu sei que seus filhos estudam no Colégio Dante Alighieri, onde tem reforço escolar. Quer dizer que pobre não pode ter reforço escolar, mas para os teus filhos é isso que você quer?’ O que eu desejo para o meu filho, desejo para todas as crianças.”
Finlândia: mestrado profissionalizante para professores
Segundo Costin , há cerca de 45 anos a Finlândia, que hoje tem um dos melhores níveis educacionais da Europa, não contava com uma boa escola, apesar de ser uma sociedade bastante coesa e igualitária. O país escandinavo iniciou então um projeto nacional de transformação da educação a partir da formação dos professores.
“A percepção deles naquele momento foi a de que havia pouco rigor na seleção e que a universidade formava professores com curso básico de humanidades. Seria como formar médicos apenas com aulas de história da medicina, sociologia da medicina etc. O que acontece quando tiver que atender um paciente? Os finlandeses mantiveram o foco nos fundamentos na graduação, mas passaram a exigir mestrado profissionalizante para professor. Deu certo”, afirmou.
Também o Japão, logo após a 2ª Guerra Mundial, e a Coreia do Sul, nas últimas décadas, implementaram projetos nacionais de mudança na formação de professores. Para Costin, o Brasil deveria investir nesse caminho, como tem defendido a pesquisadora Bernadete A. Gatti, da Fundação Carlos Chagas (assista a vídeo de uma palestra da especialista).
“Há algum tempo assisti aqui na Fundação FHC uma palestra de Thomas Kane, da Harvard Graduate School of Education, em que ele falou da importância de o professor observar a sala de aula”, lembrou a palestrante. “Como é que um professor aprende? Educação é um trabalho de equipe. Os estudantes de pedagogia devem observar a sala de aula de professores em atividade, ver onde estão acertando e o que poderiam fazer melhor. Mas no Brasil a sala de aula é um santuário, ninguém pode entrar. Mesmo o diretor se sente inibido ao ‘invadir’ a privacidade do professor, como se aquilo fosse um ato pessoal e não um processo transformador de vidas.”
Segundo Costin, o Plano Nacional de Educação (PNE) brasileiro foi o consenso possível, mas não avançou em relação à formação e à seleção dos professores. “É função do MEC interferir nas faculdades de educação e definir o currículo para a formação de professores. Vale a pena comprar essa briga. A Finlândia comprou e teve sucesso”, disse Costin.
Xangai investe em ‘mentorias’
Claudia Costin relatou uma visita à Universidade Normal de Xangai, a principal escola de formação de professores da metrópole chinesa. “Lá os alunos fazem pesquisas com os professores para conhecer os problemas que eles enfrentam, reportam a eles e juntos buscam soluções”, contou.
“O Thomas Kane também se referiu aqui na Fundação FHC às mentorias: um professor mais experiente orienta um professor que acaba de entrar. Se temos mentores para psicólogos, por que não podemos ter para professores?”, perguntou.
No Rio, ‘escolas madrinhas’
Costin relatou uma experiência realizada durante sua gestão à frente da Secretaria de Educação do Município do Rio de Janeiro, em que uma escola com resultados de aprendizagem ruins recebia o apoio de outra escola com resultados melhores, ambas inseridas em realidades sócio-econômicas semelhantes. “Foi lindo ver uma escola na Comunidade de Antares (zona oeste do Rio), que havia tido um péssimo desempenho no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2010, ficar em segundo lugar no ranking nacional três anos depois, após ser amadrinhada por outra escola da região”, contou.
Londres focou na gestão escolar
A capital britânica concentrou sua reforma educacional na figura do gestor escolar, com o objetivo de criar líderes. “Daí a importância da formação continuada do diretor para que ele seja um agente de transformação da aprendizagem em sua escola. Quando entrei na Secretaria de Educação do Rio, a primeira coisa que fiz foi me reunir com os 1.063 diretores de escolas para ouvi-los e oferecer apoio”, contou Claudia.
Equilíbrio entre autonomia e integração
Para Claudia Costin, deve-se buscar um equilíbrio entre a autonomia do professor e da escola, de um lado, e sua integração na rede, de outro: “Se lidarmos com cada escola como se fosse uma realidade isolada, perdemos a possibilidade de sinergias. Além disso, a autonomia em relação a tudo impede a busca de uma maior equidade. Temos que ser igualmente exigentes — e isso não quer dizer reprovar — com as crianças que mais precisam porque pode ser a única chance que elas terão na vida”, afirmou.
Por isso, ela defende a adoção de um currículo básico e as mesmas expectativas de aprendizagem para todos os estudantes de uma mesma rede, com possibilidades de diferenciação na relação do professor com o aluno. “Se o professor desenvolve uma maneira mais interessante de cumprir com essas expectativas, fantástico!”, disse.
Na mesma linha, ela relatou uma conversa com a ministra da Educação finlandesa sobre o fato de o governo definir os livros a serem utilizados em toda a rede. “Se não fosse assim, não construiríamos equidade”, explicou a ministra.
Suíça: diferenciação de trajetórias no Ensino Médio
Da Suíça, que teve o melhor ensino da Europa segundo o PISA 2012 (o de 2015 será divulgado no final deste ano), Costin destacou o estímulo a trajetórias educacionais alternativas durante o Ensino Médio. “Como sempre nos lembra o sociólogo Simon Schwartzman, também devemos pensar em diferenciação de trajetórias”, disse.
Ainda sobre o Ensino Médio, Claudia lembrou que muitas vezes ele é considerado como o calcanhar-de-Aquiles do sistema público brasileiro, mas, segundo ela, “essa catástrofe se constrói antes”. “O grande gargalo é o Fundamental 2, que é quando começa a haver professores especializados. Não estamos sabendo formar nem o professor primário nem os especialistas”, afirmou.
Ela criticou o “currículo enciclopédico” do Ensino Médio: “São 13 disciplinas obrigatórias e cada corporação briga para expandir suas áreas. No Brasil, são quatro horas em média de aulas e tudo é visto superficialmente. Foi correta a decisão do MEC de retirar a discussão sobre a Base Nacional Comum Curricular e pensar melhor como estruturar o Ensino Médio.”
No caso de adolescentes e jovens adultos, Costin defendeu alguma formação técnica e estímulo à inovação e ao aprendizado permanente.
De acordo com o Ideb de 2013, o Ensino Médio no Brasil atingiu nota 3,7, abaixo da meta do governo e da média dos países desenvolvidos (6,0). A taxa de reprovação e abandono beira os 30% no 1º ano e 1,7 milhão de jovens entre 15 a 17 anos – correspondente à faixa etária regular do Ensino Médio – estão fora da escola.
O aluno como empreendedor de seu processo educativo
A palestrante defendeu também que empreendedorismo — um conceito em alta diante da oferta cada vez menor de empregos estáveis e em período integral no mundo — é uma atitude que começa a ser experimentada ainda na escola. “Nos ginásios do Rio, estimulamos o protagonismo juvenil, em que o aluno aprende que é um empreendedor da sua própria vida escolar”, disse.
‘Chega de professores coitadinhos’
Segundo Costin, o professor brasileiro é muitas vezes retratado como um “coitadinho” e com frequência se comporta como tal.
“Temos que lutar por salários melhores, valorizar a profissão, mas o professor precisa ter orgulho de seu trabalho e de suas práticas.”
Desde seu tempo de secretária municipal, Costin utiliza muito o Twitter para trocar ideias com os professores. “Uma vez tive uma longa conversa com uma professora que se via como vítima. Perguntei se ela confiaria em um médico que a toda hora afirmasse ser um ‘coitadinho porque ninguém investe em mim’. Ninguém quer um médico assim”, disse.
Pais organizados
Não existem sindicatos de pais, mas Costin deu o exemplo da ativista norte-americana Michelle Ree que criou nos EUA uma organização de pais como contrapeso aos sindicatos de professores e funcionários da área educacional, em geral muito organizados e, com frequência, corporativistas. “Cada vez que há uma questão ou votação importante, eles estão lá vigilantes, mostrando sua força e seu peso”, contou, sem deixar de reconhecer a importância da atuação dos sindicatos na defesa dos interesses da categoria.
Sistemas estruturados de ensino
Além de boa formação, rigor na seleção e regras bem definidas na rede de ensino, é importante apoiar o professor disponibilizando sistemas de ensino bem estruturados. “A pesquisadora Paula Louzano fez uma pesquisa para a Fundação Lemann em que mostra que os municípios que usaram sistemas mais estruturados, com apostilados e treinamento para isso, se saíram melhor na Prova Brasil (programa de avaliação que complementa o Saeb)”, afirmou.
Durante a gestão de Costin no Rio, foram criados cadernos pedagógicos e uma plataforma de aulas digitais, gráficos, vídeos e imagens, aula a aula. “Quando saí 75% dos professores usavam a plataforma com frequência”, disse.
Em Xangai (China), a palestrante também presenciou inúmeras aulas e, segundo ela, todos os professores usavam uma plataforma de aulas digitais projetada no quadro. “A diferença é que eles conseguiam engajar turmas de até 50 alunos de uma maneira como nunca tinha visto no Brasil”, disse.
Perguntas
O economista e professor Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e membro da Academia Brasileira de Ciências, fez comentários à fala de Cláudia Costin, elogiando-a ao início por ter “tido a coragem de colocar a mão na massa e lidar com a educação pública no dia a dia com resultados muito bons”.
Escolhemos três questões de Naercio, seguidas das respostas de Claudia
Naercio: “Neste momento de crise econômica e necessidade de contenção de gastos, você é favorável à destinação de 10% do PIB para a educação, como determina o PNE (Plano Nacional de Educação)? O que acha da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que pretende estabelecer um teto para o aumento do gasto público e pode resultar em redução dos recursos disponíveis para a educação?”
Claudia: “Graças a Deus deixei de ser economista faz tempo. Eu acredito na vinculação orçamentária para a educação, conforme determina a Constituição de 1988. Foi graças a ela que conquistamos os avanços das duas últimas décadas. Investir em infra-estrutura dá voto, construir escola dá voto, mas aprendizagem, ou seja, as crianças de fato aprenderem, não. O elemento fundamental é o professor, então precisamos pagá-lo bem e ampliar o número de professores. Para isso, precisamos de recursos. É possível que 10% do PIB seja uma exagero neste momento, mas não temos como fugir de gastar em educação porque isso é investimento, não é gasto.
Naercio: “Você é a favor de dar bônus para professores que não faltam e cujos alunos apresentam bons resultados?”
Claudia: “A educação é um trabalho colaborativo. É muito difícil determinar que uma criança se deu bem porque um determinado professor foi fabuloso ou porque houve uma sequência de bons professores. Portanto, creio ser mais interessante utilizar o bônus coletivo para premiar o desempenho da escola. Prefiro que a escola tenha uma meta e que todos colaborem para atingi-la. Também não sou contra divulgar o ranking das melhores escolas. Somos competitivos mesmo. Mesmo que a gente não divulgue, elas acabam sabendo quais se destacaram, assim como os jornalistas. Então por que não dizer claramente?”
Naercio: “Você falou em formar cidadãos autônomos. Atualmente, discute-se também a necessidade de desenvolver nas crianças competências sócio-emocionais. Ou seja, além das habilidades cognitivas (raciocínio e memória), saber lidar com dificuldades e frustrações, abertura a novas experiências, perseverança. Assim se forma para o mercado de trabalho e toda a vida. O que tem a dizer sobre isso?”
Claudia: “Como preparar uma criança para ser autônoma, ter organização pessoal e uma série de coisas que hoje valorizamos? As primeiras pistas vêm de uma médica e educadora do início do século 20 chamada Maria Montessori (1870-1952), que é fantástica. Vale também ler um livro recente do jornalista canadense-americano Paul Tough “How Children Succeed: Grit, Curiosity, and the Hidden Power of Character” (título mal traduzido em português como “Uma Questão de Caráter”). Segundo ele, não se ensina alguém a ter personalidade e ser persistente por meio de palavras, mas desenvolvendo essas competências no próprio professor. Então como ensinar um professor a trabalhar bem essas habilidades? Algumas dicas para isso estão no livro “Mindset: The New Psychology of Success”, de Carol Dwek, professora da Universidade de Stanford (Califórnia).
Dwek mostra que, na relação educacional, é comum lidarmos com os alunos como tendo ou não tendo talento para algo. Alguns dão para matemática, outros não. Ela fez um experimento e dividiu estudantes com boas notas na disciplina em dois grupos. Para um, disse que eles eram gênios. Para o outro, que era impressionante como haviam se empenhado. Em seguida, aplicou um teste bem mais desafiador. O segundo grupo se saiu bem melhor. Se já sou um gênio, por que sair da minha zona de conforto? E como o professor lida com o erro? O erro é muito importante, é importante deixá-lo aflorar e o trabalhar como uma ferramenta de aprendizado. Para ensinar garra tem que ter garra.”
Um conselho final
“Nunca desista! Acreditar no que Carol Dwek diz: as estruturas mentais não são fixas. Sempre existe a possibilidade de transformar as mentes de pessoas, sejam elas alunos, professores, gestores ou mesmo os pais.”
Otávio Dias, jornalista, é especializado em política e assuntos internacionais. Foi correspondente da Folha em Londres, editor do site estadao.com.br e editor-chefe do Huffington Post no Brasil.