Debates
18 de outubro de 2018

A indústria 4.0 na Alemanha: há lições úteis para o Brasil?

Recebemos o chefe global de tecnologia e inovação da Siemens, Norbert Luetke-Entrup

“Não queremos ser transformados, queremos transformar”, disse o alemão Norbert Lütke-Entrup, chefe do Departamento de Gestão da Inovação do Grupo Siemens, nesta palestra na Fundação FHC em que apresentou a Plataforma Indústria 4.0, projeto iniciado em 2012 e expandido nos anos seguintes com o objetivo de construir os alicerces de um ecossistema para a indústria 4.0 na Alemanha.

“Fala-se muito no desaparecimento de empregos como consequência da digitalização. Mas outros tipos de trabalho estão surgindo, que exigem novas formações e treinamentos. Entre os nossos desafios está o de preparar a força de trabalho alemã, desde as gerações mais experientes até as mais novas, para que todos os trabalhadores tenham condições de participar dessa transformação”, explicou o palestrante.

Nos últimos anos, diante da liderança dos Estados Unidos na era digital e dos rápidos avanços tecnológicos da China, Berlim decidiu assumir a liderança do processo de renovação da indústria alemã, por meio do estudo sistemático das mudanças em curso, da troca de experiências e conhecimento entre diversos órgãos governamentais, empresas, sindicatos, universidades e centros de pesquisa de todo o país e da sistematização de todo esse conteúdo de alta relevância no site Plattform Industrie 4.0.

A meta é não só preservar como também ampliar a competitividade internacional da indústria alemã em um contexto de profunda disrupção tecnológica. “O que impressiona é a profundidade do esforço que tem sido feito pelos alemães para consolidar sua posição de destaque no cenário global. O que nós, brasileiros, estamos fazendo de concreto diante da magnitude dos desafios do presente e do futuro?”, perguntou o engenheiro brasileiro Horacio Aragonés Forjaz, que foi vice-presidente da Embraer e atualmente é responsável pela área de relações institucionais da FAPESP.

Plataforma Indústria 4.0 possui seis grupos de trabalho permanentes, promove workshops e treinamentos, mantém uma biblioteca online sempre atualizada e fomenta alianças com projetos semelhantes nos EUA, na União Europeia, na China, no Japão e na Austrália.

“O Brasil pode e deve construir o futuro de sua indústria com pragmatismo e isso depende de uma parceria eficiente e construtiva entre Estado, setor privado, universidades e diversas organizações da sociedade, como a Alemanha está fazendo há vários anos, com grande êxito”, concluiu Forjaz.

Otávio Dias, jornalista, é especializado em política e assuntos internacionais. Foi correspondente da Folha em Londres, editor do site estadao.com.br e editor-chefe do Huffington Post no Brasil.