‘Trump está mais preparado do que nunca para colocar em prática sua agenda extremista’, alerta Steven Levitsky em palestra nos 20 anos da Fundação FHC
O cientista político norte-americano esteve no auditório da Fundação, em São Paulo, para analisar as perspectivas das eleições presidenciais nos Estados Unidos e seus possíveis impactos no mundo e no Brasil.
“Muitos acreditam que os Estados Unidos da América, por serem uma nação rica e democrática desde o final do século 18, estariam a salvo de ameaças autoritárias, mas não creio nisso. É pouco provável que o ex-presidente Donald Trump, se eleito em 5 de novembro próximo, consolide um regime autoritário nos EUA, mas ele utilizará instituições do Estado para perseguir adversários políticos e críticos a seu governo e minar os direitos civis, entre outras medidas antidemocráticas”, afirmou o cientista político Steven Levitsky, em palestra que marcou os 20 anos da Fundação Fernando Henrique Cardoso, na manhã desta sexta-feira, 16 de agosto.
Segundo o professor de governo da Harvard University, diferentemente do que ocorre na Alemanha ou no Brasil, que têm memória de períodos que viveram sob ditadura, a sociedade norte-americana não está consciente do risco que um possível segundo mandato de Trump representa para a democracia no país. “Não vejo uma urgência de setores comprometidos com os direitos humanos e a democracia no sentido de se mobilizarem para barrar Trump. Isto é muito preocupante porque o candidato republicano está hoje muito mais preparado para colocar em prática sua agenda extremista do que em janeiro de 2017, quando chegou à Casa Branca pela primeira vez.”
‘Por que a democracia atingiu o ponto de ruptura nos Estados Unidos?’ foi o tema da apresentação do autor dos livros “Como as Democracias Morrem” (2018) e “Como Salvar a Democracia” (2023), em parceria com Daniel Ziblatt, ambos publicados no Brasil pela Companhia das Letras. Em seguida, Levitsky foi entrevistado pela jornalista Leila Sterenberg, pelo cientista político Sergio Fausto, diretor da Fundação FHC, e por pessoas presentes no auditório da Fundação, que enviaram perguntas por escrito.
Criada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 2004, dois anos após encerrar seus dois mandatos à frente da Presidência da República, a Fundação FHC tem a defesa e o aprimoramento da democracia e a relação do Brasil com um mundo cada vez mais perigoso e incerto como dois de seus pilares de atuação. A entidade busca contribuir nessas duas áreas por meio de seminários, vídeos, publicações e programas educativos, sendo reconhecida como um espaço de diálogo e produção de conhecimento qualificado e plural no Brasil e na América Latina.
Os próximos vinte anos serão fundamentais para o Brasil alcançar um patamar superior de desenvolvimento. O país será ou não capaz de avançar com maior velocidade e consistência, com melhor governança democrática, mais políticas de Estado e menos polarização destrutiva, maior e melhor integração ao mundo, mais rápida eliminação da pobreza e redução das desigualdades, em bases socioambientalmente sustentáveis?
Este é um esforço coletivo no qual a Fundação FHC tomará parte, com ainda maior empenho.